Estava uma tarde agradável, iluminada, e tinha alguma coisa no vento que entrava pela janela da sala que tornava o momento um tanto filosófico. Sentadas no sofá, eu e minha mãe usávamos o nosso talento multitask de assistir Ame-a ou Deixe-a Vancouver e ao mesmo tempo conversar sobre os nossos medos e expectativas enquanto ela costurava e eu me arrumava para sair. Falamos sobre um bocado de coisas. Fazíamos a vida parecer um assunto simples de se falar.
Em um dado momento, depois de expor minha insatisfação capilar, minha mãe sempre sábia me cortou impaciente:
"[...] Quando você vai perceber que o que te torna linda não é o seu cabelo?"
"Que bonito isso, mãe. A senhora tem razão. É só cabelo. Eu sei. Muito obrigada... É o meu coração, não é?"
"NÃÃÃÃÃO." Ela disse com muita ênfase. MUITA. "É o seu rosto! Eu olho pra ele e penso ‘até que eu fiz direitinho’. Você tem um rosto muito bonito que combina com tudo, até com o seu cabelo desse jeito..."
"Você realmente achou que ela estava falando desse seu coração rugoso?"
Nota final:
Quando contei que escreveria sobre isso, minha mãe pediu para ressaltar que ela não quis dizer que não sou uma boa pessoa ou que não tenho um bom coração; é só que, segundo ela, eu estava tentando filosofar sobre algo muito prático.
Nota final sobre a nota final:
...Mas ela também não disse que o meu coração é bom.
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